Debbie Leite e Marina Peres, da Juventude do PSTU

Os ataques do governo Temer avançam cada vez mais, precarizando o nosso presente e condenando nosso futuro. Hoje, uma parcela expressiva dos jovens está desempregada, e, quando encontramos trabalho, é em postos rotativos ou temporários, de baixa remuneração e sem carteira assinada. Se depender do Governo Federal e desse Congresso de pilantras, a situação só vai piorar: vamos trabalhar terceirizados, sem nenhum direito e até morrer!

Na esfera estadual, a receita aplicada pelos governos é a mesma que a de Temer. Em São Paulo, Alckmin, para garantir o pagamento da dívida, aplica o ajuste fiscal na USP ao lado da reitoria de Zago. No dia 7 de março, em meio a bombas e agressões por parte da polícia, o Conselho Universitário aprovou a chamada “PEC do Fim da USP”, medida que precariza o trabalho, ensino e estudo de uma forma como nunca se viu na universidade, através das demissões em massa de cerca de 6 mil trabalhadores nos próximos anos, além do congelamento de salários e do congelamento de contratações de técnico-administrativos e professores.

Ao mesmo tempo, seguem tentando fechar a creche do campus e se recusando a aprovar as cotas raciais como medida de reparação ao povo negro e indígena. Aprofunda-se o desmonte e se busca consolidar um projeto de universidade privatizante, ainda mais elitizado e racista.

Frente a tudo que enfrenta a juventude hoje, se torna ainda mais urgente que os estudantes se juntem aos trabalhadores na construção da Greve Geral marcada pelas centrais para o dia 28 de abril, para derrotar a reforma trabalhista, da Previdência, as terceirizações, as expressões do ajuste fiscal e dos cortes em cada estado e município. Somente assim poderemos derrubar Temer e toda essa corja de corruptos. A força do dia 15 de março mostrou que isso é possível!

Para isso, porém, é essencial que as direções do movimento estudantil, isso é, cada Centro Acadêmico e DCE, tome a responsabilidade e seja ativo na mobilização dos estudantes, aliando-se às mobilizações da classe trabalhadora e exigindo das centrais sindicais que construam de fato essa data unificada de Greve Geral.

Para isso, é preciso romper com a apatia e a vacilação presente hoje no movimento estudantil. Diante de todas as circunstâncias de ataques dos governos e, apesar da disposição de luta e indignação que existe massivamente entre os estudantes quando se confrontam com estes ataques, a realidade é que a atuação das entidades do movimento estudantil da USP hoje deixam muito a desejar, sejam as entidades dirigidas pela oposição de esquerda da UNE (DCE – Juntos, RUA, MAIS, PCB, CST), sejam as dirigidas pela Juventude do PT, pelo Balaio e pelo Levante Popular da Juventude, organizações que hoje estão na maior parte dos CA’s da universidade.

O DCE precisa unificar a luta dos estudantes ao lado dos trabalhadores!
Não é de hoje que o DCE Livre da USP se demonstra aquém de suas tarefas para com a luta dos estudantes diante da situação que a realidade brasileira apresenta. Basta analisar o processo de greve do ano de 2016. Enquanto os estudantes mostravam sua enorme disposição de luta por cotas raciais, por políticas de permanência e contratação de funcionários e professores, construindo greves fortíssimas nos seus cursos, com mais de três prédios ocupados, o DCE foi incapaz de unificar essas lutas, deixando a greve definhar. Não houve nenhum esforço em unificá-las em um processo de luta generalizado na universidade que pudesse, de fato, derrotar a política da Reitoria e conquistar verba para permanência e contratação, e a implantação de cotas raciais.

As assembleias de curso eram cheias enquanto a geral estava esvaziada, o comando de greve não se conformou enquanto um espaço vivo que organizasse uma luta unificada, e os estudantes ficaram isolados das mobilizações das outras universidades e dos trabalhadores de dentro e fora da USP. A greve não extrapolou os muros da universidade e não disputou a opinião pública. O resultado foi vitórias parciais nos cursos, mas derrota no âmbito geral.

Dessa forma, o DCE, entidade estudantil que já cumpriu um forte papel de aglutinar e mobilizar os estudantes, hoje, sob a gestão dirigida majoritariamente pelo Juntos/MES, se encontra distante da base e se furtando de cumprir suas tarefas e da responsabilidade de construir a mobilização que é necessária para derrotar todos esses ataques, de dentro e fora da USP, e derrubar os governos que os aplicam.

O cenário não é melhor nos cursos cujos CA’s tem gestões compostas por grupos ligados à Juventude do PT, como o Balaio, e pelo Levante Popular da Juventude. Às vésperas do dia 15 de março, as assembleias que votavam a paralisação estudantil na Letras e Ciências Sociais apresentavam uma adesão decepcionante, e o CAELL (Letras), por exemplo, não quis sequer passar nas salas para divulgar; na História, a assembleia tinha que competir com um evento festivo chamado pelo próprio CA no mesmo momento; na ECA, a gestão nem deu as caras nas assembleias de curso, pois havia marcado reunião interna da gestão no mesmo horário.

O ápice da atuação vergonhosa aparece no XI de Agosto, CA da Faculdade de Direito, onde não só não chamaram assembleia para discutir o dia 15, como a gestão também deixou passar desapercebida entre os estudantes uma manobra feita pela Comissão de Graduação da Faculdade para boicotar a aprovação de cotas raciais. O XI de Agosto relutou em chamar assembleia para debater a luta por cotas raciais, e segue defendendo que não haja assembleia para debater o desmonte da USP e as paralisações que têm ocorrido.

Esse tipo de gestão inconsequente nas entidades da universidade aprofunda uma grande contradição que existe hoje: há uma profunda indignação com os ataques e muita disposição de luta dos estudantes, mas temos um movimento estudantil na USP que não dá respostas à altura e não consegue organizar os estudantes para lutar.

A assembleia geral posterior ao 15M, além de mal divulgada e de não ter atraído um grande número de estudantes, se encerrou sem um calendário forte de lutas e nem mesmo a data da próxima assembleia. As organizações e coletivos ligados às gestões do DCE e dos CA’s se recusaram até mesmo a aprovar uma simples resolução política favorável à construção da Greve Geral e à derrubada de Temer e demais governos que nos atacam, furtando-se à tarefa sobre a qual formalmente todos manifestam acordo: construir junto aos estudantes, na universidade, ao lado dos trabalhadores, a Greve Geral capaz de derrotar os ataques à universidade pública e cortes na educação, e todos os atuais e reformas que vem hoje dos governos.

O DCE defendeu, nessa assembleia, que simplesmente não se discutisse naquele momento a proposta de resolução chamando à Greve Geral – o que, na prática, boicotou a iniciativa de fazer o movimento estudantil cumprir o papel de ativamente construir a greve. Nada alternativo foi proposto – o DCE defendeu simplesmente não debater isso naquele momento, ou seja, não debater os próximos passos depois do dia 15 e a construção da Greve Geral.

Analisando a forma como essas mesmas correntes, que atuam no movimento estudantil da USP, têm agido a nível nacional, compreendemos melhor a limitação da política que elas têm feito.

A Juventude do PT e o Levante Popular da Juventude, que estão presentes no CAELL, CAHIS, CALC, CALC, CA XI de Agosto, alguns dos maiores CA’s da universidade, defenderam nos últimos 12 anos os governos de Lula e Dilma, que, entre outros ataques, elaboraram o mesmo projeto de reforma da Previdência sendo aplicado por Temer hoje. Estiveram ao lado da burocracia sindical da CUT enquanto ela se recusava a atender o chamado da CSP-Conlutas para a convocação da Greve Geral, alegando que não havia disposição na classe trabalhadora – embora haja tantas greves hoje quanto havia no final da década de 80, além de enormes lutas das mulheres e verdadeiras ondas negras.

Mais do que isso, essas organizações aplaudiram a tentativa de atropelar o ato da Paulista no dia 15 para transformá-lo em palanque para Lula – atitude evidentemente a serviço de canalizar a insatisfação que hoje está nas ruas para a construção de uma alternativa eleitoral para 2018. Não acreditamos nisso, e achamos um absurdo que se tente construir candidaturas eleitorais em detrimento de impulsionar a luta urgente contra a reforma da Previdência, a terceirização e o ajuste fiscal.

Os setores do movimento estudantil que constroem Frente Povo Sem Medo, por sua vez, que estão mais uma vez na gestão do DCE, embora se apresentem como oposição de esquerda ao PT, têm fortalecido as iniciativas chamadas pela CUT em detrimento da unificação das lutas. Na prática, fortalecem iniciativas a serviço dessa mesma estratégia da qual discordamos profundamente: a tentativa de reconstruir alternativas eleitorais, tentando canalizar para eleições o descontentamento dos trabalhadores. Da mesma forma, seguem legitimando a UNE – União Nacional dos Estudantes, na contramão da reorganização do movimento estudantil nacional, cujas lutas há muito não passam por essa entidade burocratizada.

Todas essas organizações favorecem uma alternativa eleitoral (ainda que estejamos a mais de um ano e meio das próximas eleições!) acima da ação direta da classe trabalhadora com a juventude para derrotar de vez esses governos. Essa política se conforma como um verdadeiro entrave para o desenvolvimento das lutas e do movimento estudantil e sindical por todo o país.

O papel do movimento estudantil diante dos ataques é aliar-se aos trabalhadores na construção da Greve Geral!
O movimento estudantil não pode mais deixar a Greve Geral e a aliança com os trabalhadores apenas discursos e palavras que não se concretizam em ação. Os estudantes só vão conquistar uma educação pública, gratuita e de qualidade, que esteja a serviço dos trabalhadores e assegurar seu futuro, se estiverem junto aos trabalhadores, aliados imprescindíveis do movimento estudantil, nessa construção.

Os ataques que privilegiam uma pequena minoria da sociedade e retira direitos, degradando as condições da ampla maioria da população só apresentam em contornos explícitos que vivemos em uma falsa democracia, uma democracia dos ricos. Não podemos ter ilusões, a resposta para os anseios dos jovens e operários não virá por dentro desse sistema falido, muito menos por meio da volta de Lula e seu partido traidor à presidência.

Precisamos estar junto dos trabalhadores para questionar esta realidade e construir um governo dos trabalhadores, apoiados em conselhos populares, sem corruptos e sem patrões, e o DCE deve ser parte da organização dos estudantes para isso. O primeiro passo, é construir na base a Greve Geral do dia 28, sem nenhuma confiança que CUT e Força Sindical vão garantir uma forte paralisação se não houver pressão por baixo.

O DCE e os centros acadêmicos precisam aprender com seus erros. Nossas entidades já cumpriram um papel fundamental na história do país e estão chamados a fazê-lo de novo. Seguir nesta rotina, em que nossas entidades não são capazes de dar respostas e ser parte da construção da luta consequente contra as reformas e os governos, em unidade com os trabalhadores, é aprofundar a crise do movimento estudantil e sua apatia.

Isso precisa mudar, por isso fazemos um chamado para que todas as entidades do movimento estudantil da USP, assim como das demais universidades, construam uma verdadeira campanha na base pela Greve Geral para derrotar as reformas e derrubar Temer e este Congresso Corrupto. É preciso romper com os discursos sem ação e com a busca por canalizar a luta de hoje em uma alternativa eleitoral para 2018, para, assim, tomar responsabilidade pela construção ativa da greve geral. É urgente os estudantes se organizarem desde a base, a exemplo dos trabalhadores que já se organizam nos bairros, escolas e ocupação em comitês de luta contra as reformas – mesmo sem o apoio das direções.

Chamamos todas e todos os estudantes a se somarem a essa luta!

Para derrotar os cortes na educação e as reformas que atacam o futuro da juventude, greve geral já! Fora Temer! Fora todos eles!