Fragilidade do governo mostra que é possível derrotar as reformas e pôr abaixo Temer e esse Congresso

Dizem que, no Brasil, o ano só começa após o carnaval. Mais certo seria dizer que 2016, na verdade, nem chegou a terminar. Que o diga o governo Temer que, 10 meses depois de ter assumido o Planalto, enfrenta sua pior crise política, balança perigosamente e trilha rapidamente a mesma trajetória de queda de sua antecessora Dilma Roussef.

A crise se aprofundou na última semana com a denúncia do ex-assessor da Presidência e amigo pessoal de Temer há 40 anos, José Yunes, que corrobora informação delatada pelo ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, e relata o repasse de R$ 10 milhões da empreiteira ao PMDB. A negociação teria sido mediada pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que pode ser o nono ministro a sair, um verdadeiro recorde em tão pouco tempo de governo.

Padilha pediu licença alegando motivos de saúde e é improvável que volte. Mas Temer mal pôde respirar no carnaval que, logo na quarta-feira de cinzas, o depoimento de Marcelo Odebrecht à Justiça Eleitoral jogou mais lenha na fogueira. O empreiteiro é testemunha no processo que corre no TSE pedindo a impugnação da chapa Dilma-Temer e confirmou a reunião com Temer e Padilha em pleno Palácio do Jaburu para tratar de “contribuições financeiras” à campanha presidencial de 2014.

O relato do empreiteiro preso desde junho de 2015 confirma também o essencial da delação de Claudio Melo. Marcelo Odebrecht afirma que repassou R$ 300 milhões ao PT entre 2013 e 2014, sendo R$ 150 milhões à última campanha presidencial, entre caixa 1 e caixa 2. Delatou ainda o pagamento de R$ 50 milhões em propina em troca da aprovação do Refis (programa de refinanciamento de dívida que beneficiou a empreiteira), negociado diretamente com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Odebrecht também confirmou o pagamento de R$ 15 milhões a Aécio Neves na campanha, assim como o repasse às campanhas da então candidata Marina Silva e Eduardo Campos. O testemunho do empreiteiro mostra a relação promíscua das empresas com praticamente todos os principais partidos: PT, PMDB, PSDB, DEM, PSB, etc. Transações que dão um outro sentido à “suruba” dita recentemente pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Crise se aprofunda
Apesar dos esforços do governo, do Congresso Nacional e do STF em blindar os políticos da Lava Jato, garantindo as condições para a aprovação das reformas exigidas pelos banqueiros e o imperialismo, como a reforma da Previdência e trabalhista, a crise política tal qual um trem desgovernado, expressa a crise econômica e social que atravessa o país há pelo menos dois anos e que arrastou morro abaixo Dilma Roussef.

A crise econômica só piora apesar das sucessivas declarações do governo afirmando o contrário. O desemprego recorde é o sintoma mais dramático e atinge pelo menos 23 milhões de pessoas, não se vislumbrando no horizonte alguma melhoria.  O governo Temer, tal qual Dilma, enfrenta o rechaço popular com apenas 10% de aprovação, índice comparável apenas ao pior momento do governo Dilma. O carnaval consagrou o “Fora Temer” em todo o país como verdadeiro hit.

Até mesmo o principal trunfo apresentado por Temer como garantia para aprovação dos ataques aos trabalhadores, sua base no Congresso, começa a sofrer importantes rachaduras. A escolha do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça provocou o rompimento da ala mineira do partido, capitaneada pelo deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), vice-presidente da Câmara. “Estou rompendo com o governo e vou colocar toda a bancada de Minas para romper também“, afirmou o deputado que comanda uma bancada nada desprezível de 53 deputados.

Abaixo as reformas! Fora todos eles!
À medida em que cresce o cerco contra Temer e seu governo, o vice de Dilma aposta na estratégia de sua antecessora: uma fuga para frente. Acelera as reformas e tenta se blindar de forma descarada, criando um ministério para seu protegido Moreira Franco, com a ajuda do STF, a fim de garantir foro privilegiado, e indicando Alexandre de Moraes para o Supremo. Mas essa movimentação desesperada não consegue “estancar a sangria” e desperta ainda mais a fúria do povo contra esse governo.

Cresce cada vez mais a indignação, uma efervescência diante dum quadro em que os trabalhadores e a grande maioria da população sentem os efeitos perversos da crise, e ao mesmo tempo veem que o governo, o STF e o Congresso Nacional são abarrotados por verdadeiros bandidos que mal disfarçam suas reais intenções.

A crise política coloca em xeque a reforma da Previdência. Nem a base do governo está se comprometendo pela sua aprovação tal qual foi enviada por Temer. Mas a reforma não vai cair por si só. Ganha cada vez mais importância o Dia Nacional de Luta e Paralisações convocada pelas centrais sindicais para o próximo dia 15 de março. No dia 8, Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora, a reforma que prejudica sobretudo as mulheres mais pobres, vai ter centralidade.

Só a mobilização, rumo a uma verdadeira Greve Geral, pode colocar abaixo as reformas do governo e, a partir daí, derrubar esse governo e esse Congresso Nacional formado por larápios financiado por empreiteiros e a serviço dos grandes banqueiros.