Ações do Banco do Brasil agora podem ser adquiridas por mais e maiores investidores estrangeiros

 
Com frequência, o PT é associado à defesa das bandeiras nacionais, contra as privatizações. Isso se tornou um característica da sua história. Num certo sentido, a sua imagem ficou enlaçada a ideia de um “Brasil com Z jamais”. Daí a pergunta: o que está acontecendo? Por que a escalada das privatizações – de valoração furiosa do capital – se tem intensificado?
 
Quando começou a geração de governos petistas, a participação estrangeira no Banco do Brasil se encontrava num patamar bem próximo a 10%. Não custa rememorar que em meados dos segundo mandato de Luis Inácio Lula da Silva, o limite para a participação de investidores estrangeiros estava num nível próximo a 12%. Lula, todavia, decidiu ampliar essa participação para significativos 20%. Uma dádiva para o capital estrangeiro.
 
A chegada de Dilma Rousseff ao governo não apenas significou mais uma governante ligado ao Partido dos Trabalhadores, mas implicou numa ampliação das políticas de privatização e de reforço das posições dos chamados investidores internacionais (portos, aeroportos, rodovias, petróleo etc.). Esse fato foi demonstrado, uma vez mais, no caso do Banco do Brasil. Agora, a presidente decidiu aumentar o limite da participação estrangeira no BB. Um decreto impõe um novo teto que passa a ser de 30%.
 
De feito, as ações da maior instituição bancária de caráter público do país, agora podem ser adquiridas por mais e maiores investidores estrangeiros, todos famintos por abocanhar pedaços mais generosos das riquezas produzidas por uma das mais numerosas e exploradas forças de trabalho do planeta. Quer dizer: grandes acionistas internacionais elevarão a sua participação sobre o capital do banco e, portanto, o poder sobre o seu destino (salvo se alguém acredita que caberá ao pequeno investidor a supremacia desse processo).
 
Nunca é demais recordar que, quando da última mudança (2009), o governo informava que a Secretaria do Tesouro Nacional detinha 65,6% do capital do BB. Atualmente, essa participação se encontra num nível significativamente mais baixo: 50,73%. Assim, diminui o peso representado pelo Estado brasileiro, enquanto se eleva e se apura a parte que cabe ao capital privado (nacional e não-nacional). Em outros termos, o capital do banco, propositalmente, é aberto, e os elementos de privatização e desnacionalização se mostram implacáveis em sua dinâmica expansionista.
 
O decreto, já devidamente publicado no Diário Oficial da União, agora em fins de outubro, implica no fortalecimento de uma tendência que é de ampliação e aprofundamento das iniciativas do capital internacional sobre o Banco do Brasil. A questão também é provocadora no seguinte: tal conduta do condomínio governamental dilmista não é um atestado contra a sua retórica de que representaria um “projeto de desenvolvimento nacional” (ideia que é comprada, a preço de hoje, por um grupo de intelectuais)?
 
Em suma, privatizar e desnacionalizar se tornaram as molas-mestras de um desenvolvimentismo à moda neoliberal? Nesses termos, se o velho desenvolvimentismo contava com certo ar de dignidade, o neodesenvolvimentismo petista, em última análise, não faz da indignidade política a sua petição de fé?
 
Cada vez mais, o Banco do Brasil se torna mais o Banco do Brazil. E aqui voltamos ao ponto de partida do presente artigo. É curioso lembrar que muitos desses que estão no governo atual, nos anos 1980 gritavam nas ruas “Brasil com Z jamais”. Talvez eles – inspirados em A revolução dos Bichos, de George Orwell – queiram nos dar um aviso: “Brasil com Z jamais, a não ser que estejamos no governo”.
 
Certamente, os trabalhadores que, à primeira vista, em sua maioria, apoiam o governo, não exagerariam se perguntassem à principal gestora do país: “Que é isso, companheira?”