Um crime bárbaro abalou a cidade de Camaquã, município com 65 mil habitantes, situado a 130 km de Porto Alegre. Na madrugada de sábado (14), centenas de jovens se aglomeravam em frente ao posto de gasolina Charrua, ponto de encontro tradicional da juventude camaquense.  Por volta das 2h, um tumulto ocorreu entre alguns jovens e a polícia foi acionada.  Ao chegar no local, a viatura com dois soldados se deparou com uma briga entre dois jovens. Um deles era Djavan Rodrigues, jovem negro de 22 anos. Ele foi atingido pelas costas por um tiro de espingarda calibre 12, à queima-roupa, disparado por Willian Lima Braun, policial de 25 anos. Na tarde de sábado, por volta das 18h, mesmo após ter sido submetido à cirurgia no Hospital Nossa Senhora Aparecida, Djavan não resistiu.

A bala não era de borracha
A primeira versão apresentada pelo policial afirma que o mesmo desceu da viatura acreditando que empunhava uma arma municiada com balas de borracha. O tiro teria sido disparado quando a situação saiu do controle, ou seja, quando os dois jovens iniciaram o enfrentamento físico. A polícia afirmou em nota oficial que a situação era de ”desordem generalizada envolvendo diversas pessoas” e que “as providências (…) foram adotadas de pronto, especialmente quanto à condução do jovem ferido a imediato atendimento médico junto ao hospital local”, o que entra em conflito com a versão apresentada por amigos que presenciaram a situação. Infelizmente, Djavan demorou em ser socorrido e o disparo, que perfurou o braço atingindo o pulmão e a coluna, o fez perder muito sangue, o que complicou o quadro clínico.

“Justiça, Justiça”
Djavan era servidor contratado da Prefeitura Municipal e atuava como serviços gerais no Asilo Municipal. Conhecido como “Djalove”, também era promoter de eventos da juventude na cidade e começava a almejar um futuro na Região Metropolitana de Porto Alegre. A família conta que na próxima semana ele faria uma festa de despedida, pois queria alçar vôos junto do irmão mais novo. Sua mãe, Isabel Cristina Pereira, 44 anos, estava desesperada e bradava por justiça. O sonho de mais um jovem negro foi brutalmente interrompido.

O velório e sepultamento de Djavan reuniram mais de 300 pessoas. Após o enterro, seus familiares e amigos concentraram-se na Praça Zeca Neto e começaram a transformar a tristeza e a consternação em luta. Uma caminhada tomou conta do centro da cidade. Gritos como “não é mole não, “brigadiano” matando cidadão”, “não vem com essa farsa, a bala não era de borracha” e “justiça, justiça” se combinavam com cartazes de denúncia da violência e do racismo. O ato trancou o cruzamento conhecido como “sinaleira” e seguiu até a delegacia da polícia civil.

As lagrimas não cessarão, mas exigir a prisão imediata do assassino que tirou sua vida de forma brutal é o primeiro passo, acreditam os familiares. Por ter se apresentado voluntariamente à polícia, o militar não foi preso. A realidade é que a policia brasileira é a que mais mata no mundo e as punições são raras exceções. Só em 2012 foram 56 mil homicídios, 80% das vítimas são negros e 75% tem entre 15 e 29 anos. O fim da estrutura militar da polícia já foi recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a  Anistia Internacional, o que mostra que militarização e segurança pública não andam lado a lado. Nos próximos dias, novas manifestações devem ocorrer, incluindo o calendário do 20 de novembro, que marcará o sétimo dia do assassinato.