Ato denuncia a violência machista

Manifestação pelo 8 de Março terminou na Prefeitura e homenageou Sandra Fernandes, vítima da violência

Ocorreu nesta terça-feira, 11 de março, na capital potiguar, um ato público pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres. Intitulado “Para a Copa, milhões. Para as mulheres, migalhas! Chega de violência!”, o ato teve por objetivo lutar contra a violência machista e cobrar mais investimentos para as mulheres, frente a governos que destinam bilhões para a Copa do Mundo de 2014. 
 
A concentração se iniciou por volta das 14h30, na Praça André de Albuquerque, e desde seu início já contava com cartazes coloridos e faixas que reivindicavam maiores investimentos em políticas públicas para as mulheres e, de forma humorada, também parodiavam músicas da atualidade com intenções politizadas, como “Beijinho no ombro pro machismo passar longe”. 
 
Organizado por diversas entidades, sindicatos, partidos políticos e independentes, (Movimento Mulheres em Luta, CSP-Conlutas, Sindsaúde, Sintest, Sindguardas, Sindbancários, ANEL, Coletivo Construção, Coletivo Pra fazer diferente, Juntas, PSTU, PSOL, entre outros), o ato reuniu cerca de 150 pessoas e passou pelo centro histórico de Natal, ao som de uma batucada feminista, chamando a atenção da população. 
 
Logo na primeira parada, o grupo de mulheres “Lindas e Loucas”, do bairro de Felipe Camarão, fez uma intervenção em que se retratava a violência doméstica sofrida pelas mulheres. Frases como “homem tem que ser machista e botar a mulher para trabalhar em casa” eram encenadas, mas despertava em todas as mulheres presentes uma reação de indignação e revolta. Nas falas que seguiram a este momento teatral, foi lembrada a perda inestimável da companheira Sandra Fernandes e seu filho Icauã, brutalmente assassinados pela violência machista, em Recife.
 
Na segunda parada, em frente ao Banco do Brasil, diversas denúncias foram feitas sobre os altos investimentos feitos para a Copa do Mundo e suas consequências, como o turismo sexual e a exploração de crianças e adolescentes, o corte de verbas à saúde das mulheres, a falta de incentivo às políticas públicas de segurança e etc. Diversas manifestantes lembraram a situação precária da saúde no Estado do RN, questionando a atual governadora Rosalba Ciarlini, mulher e pediatra, e sua opção para governar para a elite do RN. Rosália Fernandes, do Movimento Mulheres em Luta, afirmou que não basta ser mulher, é necessário governar para a classe trabalhadora. 
 
Ainda na parada, uma encenação do grupo anarquista “As Afetadas” denunciou as mortes pelo aborto clandestino e defendeu o direito das mulheres sobre o próprio corpo. O ato continuou, puxado pela batucada que entoava palavras de ordem em ritmo carnavalesco: “Olha essa copa pra quem é? / Não é para a mulher, não é para a mulher!”
 
 
Prefeito tentou fechar a Secretaria de Mulheres
As manifestantes chegaram na Prefeitura, já cercada por guardas municipais, cantando palavras de ordem. “Prefeito, pode esperar; na Copa a mulherada vai lutar!”. Simone Dutra, do Sindicato dos Servidores da Saúde do RN (Sindsaúde), destacou: “Nada foi acrescentado para as políticas públicas às mulheres. A lei Maria da Penha por si só não pode resolver a violência contra as mulheres, se não houver investimento. E é para os banqueiros que vai o investimento que nós pagamos. No RN não é diferente, nenhuma delegacia foi criada, nenhuma casa abrigo foi construída e o número de vítimas de violência só aumenta.”.
 
Frente a inúmeros ataques aos direitos, as mulheres também reivindicaram a manutenção da Secretaria da Mulher (SEMUL), ao contrário do projeto do prefeito Carlos Eduardo que pretendia extinguí-la. Carlos Eduardo recuou da extinção da secretaria, mais uma vitória das mulheres trabalhadoras de Natal. A vereadora Amanda Gurgel também esteve presente e não deixou de oferecer sua contribuição e apoio a luta das mulheres. “Esse prefeito, Carlos Eduardo, enviou para a Câmara Municipal um projeto de reforma administrativa que fechava a secretaria de mulheres. Nós abaixamos nossa bandeira? Não abaixamos! Levantamos nossa bandeira e dizemos: Não vai fechar a secretaria de mulheres! Porque se hoje morrem 47 mulheres no RN, com o fechamento da secretaria vai morrer quantas? 60, 100? Não vai! E essa foi uma vitória nossa, porque Carlos Eduardo recuou dessa política. E não é porque ele é bonzinho não. Não é porque ele entende a situação que nós passamos. É pela nossa força!” 
 
A vereadora ainda aproveitou o momento para convocar as mulheres para a audiência pública sobre o turismo sexual em natal e a Copa da FIFA 2014, na próxima quinta-feira, dia 20 de março, às 9h, na Câmara Municipal dos Vereadores. 
 
Amanda homenageou vítimas da violência machista, como duas servidoras da saúde que estavam no ato. Uma delas foi esfaqueada pelo ex-marido e a outra teve um filho fruto de um estupro. Amanda dedicou o ato ainda a Sandra Fernandes. “Toda feminista é imortal. Não vamos esquecer. Sandra vive dentro de cada uma de nós”, afirmou.