Foto: Mídia Ninja

Visita do Papa Francisco não teve só adoração dos fiéis: mais uma vez, o direito de manifestação foi atacado com bombas, balas e cassetetes

 
Na noite desta segunda-feira, 22, na chegada do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, a Polícia Militar protagonizou, uma vez mais, cenas de forte violência contra manifestantes que questionavam, entre outras coisas, o gasto de dinheiro público para trazer o representante maior da Igreja Católica ao Brasil.
 
Nas proximidades do Palácio Guanabara, onde o pontífice era recebido por uma comitiva com a presença da presidente Dilma Rousseff, do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes, manifestantes protestavam com cartazes e faixas. O protesto já durava cerca de uma hora quando o helicóptero que levava o papa deixou o palácio.
 
A violência policial então teve início. Novamente, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, pancadas e spray de pimenta foram largamente utilizados contra a população. Vários ativistas, inclusive jornalistas da mídia independente foram detidos.
 
Os acontecimentos da noite de ontem eram previstos. Na reunião emergencial da cúpula de segurança pública realizada no último dia 18, as declarações oficiais já apontavam para o que ocorreu. Referindo-se a um acordo firmado entre a PM, Secretaria de Direitos Humanos da OAB e Anistia Internacional, um comandante da PM disse: “O que aconteceu ontem [durante ato em frente à casa do governador Sérgio Cabral] vai ser reavaliado. O que foi pactuado com determinadas organizações, não governamentais e governamentais, não está de acordo com a boa prática policial em nenhum lugar do mundo. Então a polícia vai retomar seus procedimentos técnicos, táticos e estudos de caso”.
 
Outro comandante da polícia também comentou o pacto e reafirmou a violência policial: “O gás lacrimogêneo, que todo mundo reclama, é menos letal, ele vai dar um desconforto, mas é para dispersar os vândalos. Então as pessoas falaram que não pode nem usar o gás e nossa ação foi prejudicada. Nós vamos reavaliar. O que foi pactuado não deu certo”. E completou: “A PM, boa ou ruim, é o que vocês precisam. Não tem outra, e é essa que a nossa sociedade tem para dar segurança, de qualquer jeito”.
 
Os dados confirmados até o momento da manifestação de ontem são de vários ativistas presos – alguns já liberados –, dezenas de feridos por balas de borracha, bombas e pancadas e um ferido em estado grave por tiro de fuzil. Um vídeo circula na internet denunciando o que seria um policial infiltrado lançando um coquetel molotov contra a polícia.