Jovem é socorrido após cair de um viaduto em BH

A morte do cinegrafista Santiago foi trágica, mas infelizmente foi apenas mais uma de tantas mortes que não saem na imprensa

A grande mídia tem afirmado que a morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes, foi a primeira desde que as manifestações tomaram conta do país em junho. Também tratam o caso como um atentado ao “direito a liberdade de imprensa”.

Mas isso não corresponde à verdade dos fatos. Em primeiro lugar, a trágica morte do jornalista não foi a primeira agressão contra jornalistas desde junho. A grande imprensa quer “apagar da história” a brutal violência policial contra os profissionais da imprensa. O exemplo mais contundente foi a repressão à manifestação do dia 13 de junho em São Paulo. Depois dos editoriais dos grandes jornais clamarem pela ordem, a Tropa de Choque da Polícia Militar distribuiu bombas e balas de borracha, inclusive contra jornalistas. Pelo menos sete profissionais da Folha de S.Paulo sofreram agressões. Uma  jornalista  do jornal quase ficou cega. Outro fotografo perdeu a visão de um olho em razão das bombas da polícia.

Quando as manifestações se alastraram pelo país, a repressão não cessou. Outros jornalistas foram agredidos e mortes  começaram a surgir, embora as notícias sobre elas fossem abafados pela mídia.

Um exemplo aconteceu em Belém com a gari Cleonice Vieira de Moraes, de 51 anos. No momento em que estava trabalhando próximo ao Palácio Antônio Lemos, onde havia um conflito entre manifestantes e policiais, no dia 20 de junho, Cleonice entrou num bondinho e um policial atirou uma bomba de efeito moral dentro do veículo. A trabalhadora desmaiou, foi levada ao hospital inconsciente, mas morreu vítima de um infarto fulminante causado pela tensão.

A repressão policial também deteriorou o já grave estado de saúde do ator Fernando da Silva Cândido, durante uma manifestação no Rio de Janeiro no dia 20 de junho. As bombas de gás lacrimogêneo usadas pela polícia obrigaram Fernando, que já tinha problemas respiratórios, a se internar em um hospital. No dia 31, o ator morreu devido a uma infecção pulmonar grave.

Em Belo Horizonte, nas manifestações contra a Copa das Confederações, alguns jovens caíram do Viaduto José de Alencar. Todos tentavam pular um vão para fugir da repressão. Douglas Henrique de Oliveira Souza tentou fugir da PM, caiu do viaduto e ,cinco dias após ser internado, veio a falecer. Já Luiz Felipe Aniceto de Almeida morreu no dia 12 de julho, depois de 19 dias internado. Sua queda do viaduto foi registrada em vídeo. 

Já este ano, em 2014, na primeira manifestação em São Paulo, o jovem Fabrício Chaves  foi abordado por policiais militares em Higienópolis, sendo baleado por dois tiros na região do braço e dos testículos. Felizmente, Fabrício sobreviveu, mas o caso revela a mais falta de noção da PM, que utilizou de arma letal para enfrentar uma manifestação.

A última vítima que se tem registro é um senhor de 65 anos chamado Tasnan Accioly, que estava na mesma manifestação em que o cinegrafista Santiago foi atingido pelo rojão. Vendedor ambulante, Tasnan fugia das bombas da polícia quando foi atropelado por um ônibus. A tragédia do Senhor Tasnan não teve a menor repercussão na mídia.

Desde as mobilizações de junho, diversos setores dos trabalhadores e da juventude brasileira aprenderam uma importante lição: que é possível lutar, realizar protestos e conquistar suas reivindicações. Contudo, os governos Dilma, Cabral e cia. não atenderam os clamores ruas. Pelo contrário, houve maior repressão e, no caso do Rio, também aumento da passagem.  Portanto, o maior responsável pela violência nas manifestações são estes governos, que se recusam a atender as reivindicações dos trabalhadores e da juventude e, agora, querem criminalizar os protestos para tentar amedrontar e evitar a reedição das mobilizações que tomaram o país depois de junho.

No dia 19, a presidente Dilma anunciou que pretende até utilizar o Exército para reprimir qualquer manifestação durante a Copa. Certamente, a medida vai provocar novas tragédias. As mortes de Santiago e de Tasnan, infelizmente, poderão não ser as últimas. 

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