Redação

Em Quilombos: resistência ao escravismo (1993), Clóvis Moura nos lembra de que a quilombagem “não foi uma manifestação esporádica de pequenos grupos de escravos marginais, desprovidos de consciência social, mas um movimento que atuou no centro do sistema nacional, e permanentemente”.

Palmares foi o exemplo mais acabado disso. Sua resistência durante cerca de 100 anos se sustentou na organização em mocambos (núcleos de povoamento), na autodefesa e na atuação com aliados que incluíam desde soldados desertores, indígenas e portugueses empobrecidos até gente perseguida pela justiça e pela inquisição religiosa. A mesma ideia foi levada a cabo por João Cândido quando formou um comitê central para organizar a Revolta da Chibata; pelos negros e negras que, há exatos 50 anos, fundaram os Panteras Negras, apoiados na organização comunitária; pelos revolucionários haitianos ou os rebeldes Malês, os Balaios e os Cabanos.

Precisamos de um quilombo socialista
Muitos destes movimentos foram marcados pelas limitações de sua época, de seu programa ou sua perspectiva política. Contudo, todos têm algo que se mantém vivo: aquilombar sempre significou se organizar para lutar pela mudança radical do mundo, a única forma de se travar uma luta consequente contra o racismo.

Hoje, quando o capitalismo está naufragando a humanidade em sua própria podridão, essa é uma necessidade ainda maior. Negros e negras sabem disso. Por isso, estão criando novas organizações, como o “Vidas negras importam”, nos EUA. Organizam-se nas periferias, nos saraus e nos movimentos hip hop, em coletivos e no interior dos movimentos popular, estudantil e sindical.

Contudo, a própria realidade impõe que avancem nossas formas de organização e métodos de luta. O capitalismo é um sistema internacional, que controla todos os aspectos da sociedade, constrói instituições para se manter no poder e, inclusive, para criar e propagar as ideologias racistas, machistas e LGBTfóbicas para dividir os trabalhadores e a juventude e garantir seus lucros e sua existência.

É diante de um inimigo como esse que precisamos construir um instrumento de luta que seja capaz de fazer frente à burguesia em todos os campos. E a história demonstra que esse instrumento só pode ser um partido revolucionário e socialista.

A Revolução será negra ou não será
Não temos dúvidas de que, hoje, existem muitos motivos para que se desconfie que qualquer partido possa cumprir esse papel. A maioria de “não-votos” (brancos, nulos e abstenções) é um reflexo disso. E bastante progressivo, na medida em significou o questionamento tanto aos partidos da casa grande quanto a seus capatazes abrigados no PT. Ninguém da esquerda pode menosprezar, também, o papel nefasto que reformistas, stalinistas e suas variantes cumpriram no que se refere ao combate ao racismo e às opressões em geral.

Nós, do PSTU, desde sempre lutamos para construir uma história diferente. Esse é o compromisso que reafirmamos no IV Encontro de Negros e Negras do partido, realizado em 2015 sob o lema “A revolução será negra ou não será”. Ou seja, assim como Marx, temos certeza de que os trabalhadores e os jovens brancos só poderão se dizer livres e que a revolução só será de fato vitoriosa quando nenhum negro ou negra continuar aprisionado às correntes do racismo.

É para lutar por isso que precisamos de um partido cada vez mais inserido nas periferias, proletário, negro, feminino e LGBT. Um partido que seja mais do que um refúgio para os oprimidos, mas um lugar onde possamos fazer avançar a consciência de raça e classe e alimentar a conspiração e a rebeldia permanentes contra o sistema.

Então, fica aqui o nosso convite: Aquilombe-se! Venha para o PSTU!

Por Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU