LIT-QI

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional

Uma macabra história de embelezamento

Uma das tradições mais macabras do estalinismo foi a falsificação e o embelezamento das piores ditaduras com o objetivo de justificar a política interior e exterior da privilegiada casta governante da URSS.

Assim, por exemplo, em 23 de agosto de 1939 foi firmado entre a Rússia estalinista e a Alemanha Nazista o Pacto Ribbentrop-Mólotov, o pacto incluía aspectos de ajuda mútua, preferências e acordos comerciais e acima de tudo o reconhecimento de áreas de influência, o que permitiu a repartição da Polônia e a anexação estalinista das repúblicas bálticas.

No tomo I do livro “Trotskismo operário e internacionalista na Argentina”, de Ernesto González, se recupera a seguinte e expressiva anedota de Nahuel Moreno, que conta como os estalinistas faziam as mais macabras e retorcidas manobras para justificar a política da casta soviética dirigente, vejamos a anedota:

“No final de agosto de 1939 a URSS firmou o pacto Molotov-Ribbentrop com os alemães. Este feito repercutiu sobre todos os grupos da esquerda. Hugo [Nahuel Moreno] recordava que há muito tempo nas reuniões do Teatro do Povo “o grande tema de discussão era quase sempre a luta contra o nazismo. Qualquer um que denunciasse os campos de concentração, a perseguição dos judeus, etc, era aplaudido por todos os adversários políticos, anarquista, trotskista, socialista, o que fosse. Haviam muitos operários e intelectuais judeus no PC e na esquerda em geral. Inclusive eram majoritários em alguns sindicatos como confecção e madeireiros. (…) Uma noite, às oito ou nove horas, nos chegou a notícia, trazida por nossos amigos do jornal El Mundo de que se acabava de se firmar o pacto de Hitler-Stalin. Eu tomei a palavra imediatamente para denunciar o feito e Satanovsky (dirigente dos intelectuais do PC) se retirou.

O restante dos stalinistas ficaram, me escutando em silêncio. Eram a metade dos adversários políticos e por sua vez eram em sua maioria judeus. Em torno da meia-noite, Satanovsky que evidentemente havia ido consultar o Comitê Central do partido, voltou dizendo que a notícia era verídica. Então ocorreu algo que me provocou um impacto tremendo… (Satanovsky) tomou a palavra e disse mais ou menos o seguinte: “Repudiamos a canalha imperialista que se disfarça de democrática para atacar o povo alemão e seu grande governo! É mentira que Hitler persegue os judeus, é mentira que persegue ao PC, não existem campos de concentração na Alemanha! São todas mentiras do imperialismo!” . E a seguir… todos os stalinistas o aplaudiram! Não conseguimos ganhar nenhum judeu do PC para nossas posições! Nenhum! Todos o aplaudiram! Bom, fiquei estupefato e a impressão que me resta até hoje e da qual me convenci é que o Stalinismo é como uma igreja medieval, ninguém duvida de nada, todos aceitam o que sua direção diz. Não podia crer no que via, ainda que os companheiros anarquistas já houvessem me prevenido.”

O pior do que sobrou do Stalinismo: Síria
O estalinismo foi ferido de morte pelas revoluções democráticas que derrubaram os regimes de partido único, essa tradição entrou em uma profunda crise (que segue até os dias atuais) porém tem conseguido se rearticular sob a direção política do Partido Comunista de Cuba e o Partido Socialista Unido da Venezuela, e assim tem voltado às falsificações.

Nos últimos quatro anos temos visto uma asquerosa falsificação e manipulação do castro-chavismo sobre a revolução síria. Os interesses empresariais e diplomatas do castro-chavismo com a Rússia oligárquica de Putin, tem levado-os a uma denúncia sistemática das revoluções árabes e especialmente a revolução síria como uma “conspiração da CIA, os sionistas, das monarquias do Golfo das empresas de comunicação.”

Como observado por Santiago Alba Rico: “Nunca a esquerda [a esquerda stalinista, vale esclarecer], diante de uma revolução popular, se comportou de uma forma ignóbil: não só não se solidariza com ela e, uma vez derrotada – não tem honrado seus heróis e lamentado o resultado, aliás o que tem feito é cuspir na cara deles e celebrado sua morte e sua derrota. Coerentes com este negacionismo tipicamente imperialista (ou stalinista), se localizou ao lado da extrema direita europeia e acima de tudo tem reprimido as manifestações em nossas cidades, criminalizando  a esquerda coerente, ao lado das pessoas comuns e decentes que tem denunciado os crimes de Assad e seus aliados ao mesmo tempo, denunciado a Arábia Saudita, a Turquia e os EUA e -logicamente- o fascismo intolerável em tudo equivalente ao regime, do ISIS ou al-Nusra Front- .. ” (Rebelião. 23/12/2016).

Mas acreditamos que com a ascensão de Trump, poderíamos estar diante de um comportamento igualmente vergonhoso como tem apresentado  o  stalinismo na Síria.

Onda Conservadora?
Em 20 de janeiro, assumiu Donald Trump. Desde que ganhou as eleições em dezembro, o movimento popular (jovens, mulheres, negros, imigrantes, muçulmanos, um setor de base do sindicalismo) não tem deixado de se mobilizar.

Em 20 e 21 de janeiro centenas de milhares se mobilizaram, vimos as maiores mobilizações coordenadas no planeta desde 15 de março de 2003, quando os povos se mobilizaram contra a guerra do Iraque, se calcula que pode ter havido mobilizações em 600 cidades e pontos do mundo, incluindo a Antártida.

No dia 21 de janeiro se mobilizaram milhões na Marcha Mundial das Mulheres, alguns calculam cerca de três milhões de pessoas, o que provavelmente seria a maior mobilização unitária da história dos EUA.

As mobilizações foram claramente ant-iTrump e com uma agenda de defesa dos direitos democráticos das mulheres que começam a ser ameaçados ela administração deTrump. De fato um dos primeiros atos do governo de Trump, na segunda-feira, 23 de janeiro foi apresentar: “um decreto que proíbe a concessão de ajuda estadunidense a organizações não governamentais e provedores sanitários no estrangeiro que assessorem questões sobre o aborto como uma opção de planejamento familiar.” (BBC. 25/01/2017).

Vigorosas, estas mobilizações no coração do imperialismo começam a resolver uma discussão que vinha sendo feita no seio da esquerda: Existe uma onda conservadora em curso? Assim por exemplo, Emir Sader, um dos ideólogos do governo do PT, de Lula e Dilma, havia assinalado: “nas últimas décadas, temos visto como o conjunto do sistema político norte-americano se tornava mais conservador. O mesmo Partido Republicano passou pelo Tea Party, até à avalanche de Donald Trump [que] empurrará o centro político mais para a direita. Mas não é apenas um fenômeno americano. Na Europa (…) as correntes que mais crescem e se fortalecem são as da extrema direita (…) Tal como acontece com o discurso Trump, a questão dos imigrantes é central para todas essas correntes (…) brancos, religiosos, violentos, eles constroem uma nova direita, ainda mais conservadora, de maior exclusão social, étnica e cultural. (…) Na América Latina, as derrotas sucessivas da direita em países com governos que se opõem ao neoliberalismo levaram a processos de radicalização da direita: não reconhecimento dos resultados das eleições, as tentativas de desestabilização política através de campanhas da mídia, terrorismo econômico, a busca pela desqualificação pessoal dos líderes populares, ações violentas de grupos terroristas, que levaram entre outras consequências a radicalização de mais ou menos amplos setores da classe média. Buscam reinstaurar o clima ideológico da Guerra Fria, com a intolerância, a discriminação. “(Público. 24/03/2016).

Acreditamos que esta posição é completamente equivocada, uma sofisticação intelectual para continuar o embelezamento e a capitulação ao governos e partidos do Fórum de São Paulo (o PT, o PSUV, o FMLN, etc.)

Estamos de acordo com a opinião do nosso companheiro Eduardo Almeida, um dos dirigentes da LIT, que disse: “A enorme mobilização das mulheres contra a Trump (o maior da história), bem como as manifestações no mundo do dia 20, indicam um novo momento da luta contra o imperialismo. É possível ampliar a luta contra o imperialismo se mobilizando contra a sua verdadeira face, que é a de Trump”.

Estes fatos no coração do imperialismo, também desmentem, mais uma vez a farsa da “onda reacionária”. Trump ganhou como resultado de desgaste dos democratas, após a frustração de expectativas com Obama.

Sendo processos diferentes, há uma semelhança com a crise dos governos de Kirchner e Dilma no Brasil e na Argentina.

As mudanças “à direita” na superstrutura política não significa necessariamente uma mudança nas relações de poder na sociedade. Trump é um governo de extrema-direita que vai tentar implementar seu plano. Mas, desde agora, está se enfrentando com uma reação sem precedentes do movimento de massas.

No México, a crise brutal do governo de Peña Nieto (de direita) está enfrentando uma crescente mobilização, com elementos iniciais de duplo poder, [que] é mais uma demonstração do erro de [a ideia] uma “onda reacionária” .

O que está sendo gerado no mundo é uma crescente polarização da realidade, com o aumento da instabilidade política e uma enorme crise dos aparatos reformistas como o PT ”

Ás portas de um embelezamento de Trump
Para o ativismo social e a esquerda, estamos entrando em um momento difícil é claro, mas com grande potencial. A rejeição contra Trump e suas políticas é global e começou desde o primeiro dia de seu mandato (na verdade desde o primeiro dia de sua eleição) com uma forte mobilização.

Assim, qualquer organização e ativista da esquerda deveria estar se preparando para as lutas dos trabalhadores, anti-imperialistas e democráticas que estão por vir. Mas, curiosamente um setor da esquerda, estava mantendo um silêncio suspeito e agora começa a balbuciar alguns argumentos … para embelezar Trump.

O sinal de partida é dado por Nicolas Maduro, presidente da República Bolivariana da Venezuela, que em 16 de janeiro de 2017, numa Conferência de Imprensa, disse: “Temos que esperar. Sobre o presidente Donald Trump os grandes meios de comunicação internacionais têm especulado muito e nos surpreende a campanha de ódio que há contra ele, brutal, no mundo ocidental e os EUA “(…)” Eu digo: esperemos para ver o que acontece tanto nas políticas internas dos EUA como nas internacionais. Nós não chegar à frente dos acontecimentos. Nesse sentido quero ser cauteloso e dizer: esperemos “(…)” Pior do que Obama não será. Isso é tudo o que eu me atrevo a dizer! “(1) (2).

Não há nenhum aviso, nenhuma chamada para lutar, nem menção ao “senhor Perigo” ou ao “enxofre”, mas um apelo à calma e um claro embelezamento, o raciocínio de Maduro é:  “Se os meios de comunicação, como a CNN e o New York Times apoiaram Hillary Clinton e atacam Putin, Assad e mim mesmo e agora atacam Trump … deve haver algo progressivo … terá Trump“. Este sinal verde, permitiu que fosse desencadeada uma corrida para os conspiradores e os mais sem vergonhas embelezadores dos estalinistas, fazendo os sair da toca.

Então, em 19 de janeiro de 2017, Miguel Angel Ferrer, blogueiro da Telesur, disse: “Até agora Trump não levantou a possibilidade de uma intervenção militar em um país estrangeiro. Nem tem insinuado que procuraria derrubar quaisquer governos de países terceiros. Nem esboçou que buscará desestabilizar outros estados. Por que, então, a histeria anti-trump, visível nos meios de comunicação dominantes? (…) Vamos ver o que fará Trump. Mas, por agora a sua demonização nos meios de comunicação dominantes carece fundamentos objetivos. Só cheira a uma campanha de obstáculos e sabogem a seu governo “(3). Em 22 de janeiro de 2017, o website semi oficial do chavismo, ALBA movimentos, reproduziu o artigo (4) “Quem financiou marcha das mulheres contra a Trump?”: (4) assinado por ALBA, onde dizia:

“De acordo com um artigo do jornalista Asra Nomani, publicado pelo The New York Times, George Soros financia pelo menos 56 movimentos feministas e de direitos e humanos que participaram da Marcha das Mulheres. (….) “O nome de George Soros é conhecido mundialmente não só pelo seu poder econômico e ligações políticas gringas, mas também por financiar -através suas ONGs – revoltas violentas na Ucrânia, em 2014, que levou a um golpe de Estado. Precisamente por esta razão, e as relações de George Soros com o Partido Democrata, é que o presidente Vladimir Putin advertiu a Trump que Soros estaria preparando golpe ao um estilo ucraniano. Enquanto isso Hillary Clinton aproveitou politicamente o evento através de um tweet, insinuando que George Soros e a elite política e financeira adversários de Trump  apostam todas as suas iniciativas para o minar, em várias frentes, sua presidência”. A nota foi removida 4 dias depois, sem explicação.

Finalmente em 24 de janeiro de 2017, no site Rebelión, Atilio Borón, um dos mais sofisticados ideólogos do castro-chavismo, com um pouco mais de pudor e elaboração disse: “Eu quero ver o que dirão nesse momento os seguidores de Washington e seus lacaios na mídia ao ouvir Trump pronunciar um discurso semelhante ao de Cristina [Kirchner], porque os desastres que o Consenso de Washington fez a nível mundial não excluiu os Estados Unidos. O que eles vão dizer? Trump, que não é santo (como qualquer outro presidente dos Estados Unidos) percebeu que para reconstruir seu país tinha que construir pelas bordas as ideias que haviam norteado as políticas econômicas da Casa Branca desde os anos 80.  Em seu discurso inaugural iconoclasta, ele proclamou o retorno ao protecionismo dos fundadores da sociedade americana (Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Tesouro foi um retrocesso proteccionista), denunciou a classe política tradicional  apoiada e financiada pelos agentes empresariais do neoliberalismo- acusando-a de enriquecer, enquanto a grande maioria do país se empobrecia e  as empresas e empregos migraram para outras latitudes e do “sonho americano” se tornava um pesadelo intolerável.

Trump pretende dar o tiro de graça ao neoliberalismo porque seu vírus (…) contagiou a potência integrante do sistema imperialista e seus efeitos são letais. Temos que ver, se o que em uma nota anterior chamamos de “estado profundo” ou o “governo invisível” dos EUA o permite concretizar seus planos.” (5)

Então já temos o roteiro deste novo “raciocínio” castro chavista, uma mistura fedorenta de meias verdades, falsificações e amálgamas: 1) Obama e Hillary são democratas e foram apoiadas pelo capital financeiro e George Soros. 2) Obama e Clinton estavam por trás das primaveras árabes e dos “golpes de estado” em Honduras, Paraguai e Brasil ( “golpes suaves” dizem os stalinistas). 3) Putin enfrentou a revolução síria, assim, venceu Obama e Clinton, logo Putin é progressivo na luta contra os Estados Unidos. 4) Trump admira Putin e vice-versa, tendo assim algo semelhante. 5) Trump tem uma política antiglobalização e declarações protecionistas (novo Hamilton), Putin é anti-globalização e protecionista, nós [Chávez] somos protecionistas e antiglobalização, portanto, temos interesses comuns. 6) CNN eo New York Times apoiou Clinton e atacou Putin, Assad e Maduro, e também a Trump, portanto, algo de bom Trump tem. 7) Há mobilizações de massa que enfrentam Putin, Assad e Maduro, a direita intervem nestas manifestações, por outro lado são conspirações financiados por George Soros, o capital financeiro e CNN. 8) As mobilizações contra Trump são reacionária e prematuras, provavelmente financiada por Soros ou uma reação do “Estado profundo”, é melhor estar com Trump … por agora.

E assim chegamos ao que pode ser um dos embelezamentos mais ultrajantes e reacionários que o stalinismo fez em décadas.

A verdade sobre Trump
Portanto, de repente, temos com o castro-chavismo um debate que não esperávamos ter: demostrar que o “trumpismo” é uma força reacionária e imperialista até a medula. Recordaremos alguns argumentos.

Parece necessário lembrar que Trump reiterou esta semana que deveria ter sido “levado” o petróleo do Iraque (ou seja radicalizar crimes de guerra), aceitou que deveria ser usada a tortura e assassinato de membros da família, como forma de combater ” os terroristas”. O 25 de janeiro, deve anunciar o início da construção do muro na fronteira do México e anunciou um dia antes o reinício de dois gasodutos polêmicos amplamente rejeitados pelos povos indígenas e a população em geral.

Além de que seu gabinete é o gabinete dos ricos mais ricos em toda a história americana, e na história da humanidade.

Como Roberto Laxe corretamente aponta: “Donald Trump é o novo chefe do imperialismo norte-americano, como antes era Obama,  Bush, Clinton, etc. etc. O capital estadunidense, através do mecanismo democrático do voto, trocou de chefe porque um setor da burguesia, com Fox News à frente (que Trump pare de gritar contra a mídia, porque a mídia o favoreceu , somente iludindo os tolos crédulos do Twitter), percebeu que para combater sua crise e decadência deve enfrentar o inimigo interno, os direitos trabalhistas e sociais e a população trabalhadora ianque, antes de embarcar em aventuras que só trazem derrotas. O isolacionismo de Trump não significa que renuncie o papel imperialista ianque, mas trata-se de apenas uma tática:

Os Estados Unidos não tem capacidade financeira para seguir sendo os donos do mundo. É um “passo atrás”, para que caso consigam seus objetivos, voltem com mais força, se possível.

Por outro lado, Michael Roberts já tinha advertido que o Trumpismo econômico não é nenhum protecionismo, e nenhum retorno a Hamilton, senão que na verdade é “uma combinação de keynesianismo e o neoliberalismo. Os novos cortes de gastos e impostos devem ser pagos, aparentemente, com uma maior desregulamentação dos mercados e das condições de trabalho para aumentar os lucros. Isto supostamente  aumentaria a taxa de crescimento em um “modelo dinâmico“,  o que foi chamado de economia “trickle-down” onde os impostos eram reduzidos e cortados para os ricos e estes gastavam em bens e serviços, de maneira que o resto de nós conseguíssemos um pouco mais de renda e emprego. O principal incentivo, de acordo com próprio perito econômico de Trump, não são as reduções na taxa de impostos pessoais ou corporativos, mas permitir que as empresas amortizarem seus investimentos imediatamente, em vez de ao longo do tempo. “(6)

Em outro artigo Michael Roberts levanta de forma sensata, se a política econômica da Trump favorecerá especialmente as grandes corporações, o capital financeiro e seu CEO:

Parte do plano de Trump (novamente apresso-me a acrescentar, se for aplicado) é reduzir a taxa de imposto para empresas que possuem enormes reservas de dinheiro no estrangeiro, para repatriarem estes fundos para investir nos EUA. Ao contrário de outros países desenvolvidos, os EUA cobram impostos das corporações em todo o mundo, mas permite que as empresas adiem o pagamento de impostos sobre os lucros no exterior até que seja repatriada essa renda. Como resultado, as empresas americanas tem evadido impostos nos EUA, escondendo, aproximadamente, 2,6 bilhões fora do país, calculado pelo Comité Misto do Congresso sobre Impostos. As cinco maiores empresas em relação aos seus investimentos em dinheiro no exterior em 30 de setembro, 2016, são Apple ($ 216 bilhões), Microsoft ($ 111 bilhões), Cisco (60 bilhões de dólares), a Oracle Corp . (51 mil milhões) e Alphabet Inc. (48 mil milhões de dólares).”

Já foi tentado algo parecido com George Bush em 2004. Mas o resultado foi um aumento do investimento produtivo, e uma nova onda de especulação financeira. As empresas conseguiram uma “anistia fiscal”, mas utilizaram o dinheiro repatriado na compra de suas próprias ações ou no pagamento de dividendos aos acionistas, elevando o preço das ações e pediram crédito, com taxas muito baixas utilizando como colateral a melhoria do “valor de mercado” das empresas. Em 2004, quando as empresas americanas repatriaram $ 300 bilhões em dinheiro, as recompras de ações no S & P 500 aumentaram 84%.

Os economistas da Goldman Sachs (GS) acreditam que vai voltar a acontecer com o plano de Trump. Na verdade, a GS estima que no próximo ano a recompra de ações será o destino final da maioria dos lucros das empresas numa proporção que vai ser o mais elevado dos últimos 20 anos. Eles estimam que 150 bilhões (ou 20% da recompra do total) será em dinheiro repatriado no exterior. A GS prevê que a recompra será 30% superior a do ano passado, em comparação com apenas 5% a mais, sem o impacto da repatriação do capital, ao passo que a sua contribuição para o investimento produtivo vai mudar pouco.

Quando perguntado o que ele faria com o dinheiro repatriado caso fosse implementado o plano de Trump, de isenções fiscais sobre os lucros no estrangeiro, o CEO da Cisco Systems Inc., Chuck Robbins disse: “Temos vários cenários em relação ao que gostaríamos de fazer, mas você pode supor que vamos focar no óbvio:  recompras, dividendos e atividades de M & a” (7).

Esperamos que este artigo ajude aos simpatizantes honestos do chavismo a pensar na brutal falsificação e embelezamento que a cúpula chavista está montando, por outro lado fazemos desde já a advertência a todos os ativistas que se preparam para lutar contra Trump ao redor do mundo, que provavelmente encontraram no castro-chavismo um obstáculo e não um ponto de apoio a sua luta.

Por: Roberto Herrera

Artigo publicado originalmente em: socialismohoy.com

Tradução: Paula Parreiras