Em janeiro se completaram dois anos do terremoto que devastou o Haiti, matando milhões de pessoas. Desde então, nada mudou no país. Em entrevista, Didier Dominique, dirigente do Batay Ouvriye (Batalha Operária), organização popular sindical do Haiti, explica a atual situação política e o retorno das forças duvalieristasQual é a situação social e política no Haiti hoje?
A situação política no Haiti é a pior. O país está cada vez mais nas mãos de corporações transnacionais e governos imperialistas. São estes últimos que, agora, o administram totalmente. Claro que em defesa dos seus próprios interesses. De fato, apoiando-se nos lacaios do executivo e do parlamento, eles conseguiram aprovar leis que reduzem o salário mínimo (não só em termos nominais). Ainda segundo essa realidade, os produtos de primeira necessidade, transporte, serviços médicos médicos ou ainda habitação, aumentam sem parar.

O povo protesta diariamente. No entanto, a força de ocupação, a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a “chamada” Estabilização do Haiti) e a Polícia Nacional reprimem fortemente o tempo todo. Assim, as manifestações múltiplas são quase impossíveis ou, pelo menos, desembocam sempre em duras repressões e muitas vezes em confrontos de rua.

Globalmente, a situação social, consequência da dominação política e econômica do imperialismo, piora diariamente.

Quem é Martelly e o que ele representa?
Músico de carreira, Martelly é um antigo “macoute” [membro do exército paramilitar] de Jean-Claude Duvalier. Ele fazia parte dos movimentos de jovens em apoio a Duvalier. Sua alegria e seu sadismo durante o golpe de Estado de 1991 mantiveram-se na memória de todos.

Artista provocativo e popular, ele soube atrair multidões, principalmente de jovens desempregados de um subproletariado de natureza instável, e, sobretudo jovens demais para ter memória das atrocidades do golpe de Estado. Dizendo se opor à “política estática e reacionária dos políticos corruptos”. Assim, soube canalizar a rejeição popular a políticos esclerosados e, afinal de contas, realmente incapazes.

No entanto, seu verdadeiro suporte vem mais do apoio da burguesia local e da extrema-direita norte-americana. Durante sua campanha, ele recebeu a visita de Sarah Palin! Ele representa hoje o projeto de exploração sem limites das multinacionais têxteis, do turismo e da agroindústria. Claramente exposto nas últimas décadas, o projeto de transformar o Haiti em uma fonte de mão de obra barata – precisamente para enfrentar a estagnação da sua indústria têxtil – chegou no momento de exploração concreta e é este projeto que Martelly deve realizar.

Quais são as forças políticas presentes atualmente?
Pouco a pouco ressurgem os partidários de Duvalier, que já tinham acumulado o suficiente. São demasiado ricos, hoje, para querer investir o dinheiro roubado durante seus trinta anos no poder. A presença de seu líder principal, Jean-Claude Duvalier, ajuda a reagrupar e estruturar o grupo. Deste movimento, Martelly não está ausente, tendo sido parte dessa acumulação.

A organização do ex-presidente Aristide, o Lavalas, é atualmente muito fraca em números, mas principalmente em qualidade, tendo rendido as armas desde o primeiro retorno de seu líder na sombra das forças imperialistas. À medida que superavam as forças retrógradas, buscaram também uma rápida acumulação dentro do Estado, mesmo que algumas de suas bases, combativas e progressistas, representassem ainda algumas reivindicações populares.

Esta reorganização das classes dominantes ocorre, é claro, sob o controle e a direção das forças imperialistas, representadas pela MINUSTAH (e, desde o terremoto de janeiro de 2010, mais diretamente pelo Departamento de Estado e pela embaixada norte-americana).

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