A presidente Dilma ao lado de seu vice Michel Temer (PMDB)

Sobram apenas migalhas para serem distribuídas em programas assistenciais para o setor mais desfavorecido da população e crédito de montão para dar a impressão de que está melhorando o padrão de vida dos pobres.

Na semana que passou, o cenário político do país esteve, em grande medida, marcado pelo debate sobre a aliança do PT com o PMDB para as eleições de outubro. O PMDB pediu mais um ministério, Dilma disse que não daria; o PMDB ameaçou deixar a aliança, Dilma arrefeceu o discurso, e Lula entrou em campo para garantir o acordo.
 
Todos já sabemos, infelizmente, o final desta novela de mau gosto. O PT vai ceder o necessário para firmar a aliança com o PMDB. Não só com o PMDB, mas também com o PSD, com o PP, PTB, e uma longa lista de “Ps” que representam distintos setores do grande empresariado. Trata-se de uma opção feita há muito tempo, por aliar-se com a burguesia para disputar as eleições e, depois, para governar.
 
Em debate dias atrás, no Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), ao criticar esta opção feita pelo PT e seus governos, fui acusado pelos representantes da CUT e da CTB no debate (respectivamente dirigentes do PT e do PCdoB) de estar fazendo o jogo da direita.
 
Antes que nada, quero chamar a atenção para algo que seria até engraçado se não fosse trágico. Para eles, é como se a direita se limitasse ao PSDB (e agora o ex-aliado PSB). Seriam então parte da “esquerda” não só o PMDB de Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e Sergio Cabral, mas também o PP de Paulo Maluf, o PTB de Collor de Mello, o PSD de Kassab, o PSC de Feliciano… A que ponto chegamos!
 
E as consequências destas alianças já sabemos: presença destes partidos no governo, controlando muitos ministérios e, o mais importante, o programa econômico aplicado pelo governo chefiado pelo PT – um programa que mantém intactos os privilégios do grande empresariado, nacional e multinacional, no país. Com estas alianças, se governa para a burguesia, e quem paga o pato são os trabalhadores e o povo pobre.
 
É esta situação que não permite que o país mude para que o povo tenha uma vida digna. Sobram apenas migalhas para serem distribuídas em programas assistenciais para o setor mais desfavorecido da população e crédito de montão para dar a impressão de que está melhorando o padrão de vida dos pobres.
 
A riqueza, na verdade, está cada vez mais concentrada em nosso país. Os bancos e grandes empresas batem recordes históricos de lucratividade, enquanto os salários são cada vez mais arrochados, a saúde e educação pública estão um verdadeiro caos, não há investimentos para moradia popular nem para transporte público. Tudo isso faz a vida da juventude e do povo pobre cada vez mais insuportável. E, quando lutam contra este estado de coisas, sobra repressão policial e criminalização aos movimentos sociais.
 
Assim, o que de fato ocorre é que a direção do PT e do PCdoB acenam com o “espantalho” do PSDB (que obviamente nenhum trabalhador quer de volta ao governo), para dizer que a única alternativa dos trabalhadores é reeleger Dilma e defender o governo do PT com suas alianças. Trata-se de um truque de raciocínio antigo (lembram as chantagens que nossas mães nos faziam com o “bicho-papão” para nos impelir a fazer o que elas queriam?). Mas tem funcionado, a grande maioria dos trabalhadores e mesmo da juventude acabam acreditando que este é o único caminho possível. Mas essa não é a única alternativa.
 
O PSDB, por óbvio, não é uma alternativa para os trabalhadores. Tampouco o são o PSB de Eduardo Campos e, agora, Marina Silva. Representam apenas setores diferentes da burguesia que querem eles mesmos dirigir o Estado, ao invés de PT e seus aliados. Para os trabalhadores a situação continuaria a ser de penúria e repressão, em alguns aspectos talvez até pior. Basta ver os governos do PSDB em Minas Gerais, e do PSB em Pernambuco.
 
O que sim, precisamos – e podemos construir – é uma alternativa dos trabalhadores, de classe e socialista, que una a classe trabalhadora contra todos os setores da burguesia exploradora. Que defenda a aplique no país um programa econômico que promova as mudanças na sociedade de forma a acabar com os privilégios dos bancos e grandes empresas e a assegure que os recursos do país e a riqueza produzida pelo nosso trabalho sejam usados para garantir vida digna para os trabalhadores e o povo pobre, e futuro para a nossa juventude.
 
Falam que o PSTU é muito pequeno para isso. Sim, é verdade. Por isso mesmo a obrigação primeira de construir esta alternativa seria do PT, de organizações como a CUT, que são grandes e têm muita força política. Para isso, bastaria que rompessem com a burguesia e seu modelo econômico e adotassem a defesa de um programa econômico dos trabalhadores.
 
Se o PT fizesse isso e chamasse os trabalhadores à mobilização para garantir as mudanças que o país precisa, certamente a resposta dos trabalhadores seria positiva. Construiríamos um amplo processo de mobilização social, dez, vinte vezes maior do que junho passado. É assim que chegaríamos a uma relação de forças que possibilitasse a transformação do Brasil num país justo, onde o trabalhador e a juventude tivessem vez. Assim, com a luta do povo e não com alianças com a burguesia e as velhas oligarquias.
 
No entanto, na medida em que o PT não o faz, o PSTU vem, sim, buscando reunir os socialistas, as organizações dos trabalhadores e da juventude para construir esta alternativa para o nosso país. E vamos apresentá-la nas eleições de outubro. Não porque achamos que essa transformação possa se dar pelas eleições, mas porque é preciso aproveitar o processo eleitoral para organizar trabalhadores e jovens em todo o país nesta perspectiva.
 
Os militantes e trabalhadores que são do PT ou do PCdoB e ainda acreditam nestes partidos, mas que não abandonaram o sonho socialista, que não estão de acordo que seu partido continue a ser capacho dos interesses do grande empresariado devem exigir da direção do seu partido que rompa suas alianças com a burguesia e se lance à construção de uma alternativa de classe e socialista.
 
E desde já deixamos o chamado a estes companheiros, em caso de negativa da direção do PT ou do PCdoB a esta exigência – que, francamente, creio que é o que vai acontecer – para virem somar forças conosco na construção de uma alternativa socialista, para as eleições e para as lutas da juventude e dos trabalhadores brasileiros.
 
Podem parecer pequenos os passos que damos neste momento, mas eles são importantes – fundamentais, na verdade – para trilharmos o caminho necessário para a realização do nosso sonho de viver numa sociedade livre de toda forma de exploração e opressão. Uma sociedade igualitária, socialista, onde todos possamos viver de forma plena como seres humanos que somos.
 
 
Zé Maria é pré-candidato do PSTU à Presidência da República por uma Frente de Esquerda

 
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