Depois de uma greve histórica que durou 15 dias, os rodoviários de Porto Alegre retomaram suas atividades na manhã dessa terça-feira, 11, mas mantêm o estado de greve até sair a decisão do dissídio no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) na próxima segunda-feira.

A semana de quatro a nove de fevereiro foi marcada por uma onda de calor em Porto Alegre que há muito não se via. Os termômetros chegaram a bater recordes e a sensação térmica passou dos 40 graus em vários dias da semana. Nessa semana também os rodoviários mantiveram a greve geral, quando 100% da frota não saíam das garagens, e trouxeram novamente para o centro do debate a questão do transporte público na cidade. Ao mesmo tempo, vimos a revolta de várias comunidades castigadas pela onda de calor que ocasionou a falta de luz e água em vários pontos da periferia da capital. Além da greve, Porto Alegre viu barricadas e mobilizações que tiraram o sono do prefeito José Fortunati (PDT).

Os trabalhadores e estudantes na luta pelo transporte público de qualidade
Ao cruzar os braços e pressionar a patronal por melhores condições de trabalho, os rodoviários questionaram todo o sistema de transporte público em Porto Alegre. Eles exigem aumento salarial de 14%, aumento do ticket alimentação, manutenção do plano de saúde e uma jornada de trabalho menor e sem banco de horas. O Tribunal de Contas do Estado (TCE), que já havia elaborado um parecer sobre o cálculo da tarifa de ônibus, por unanimidade, apontou uma série de irregularidades que, combatidas, poderiam trazer uma redução do valor da tarifa. Entre essas irregularidades está o superfaturamento dos preços de manutenção e óleo diesel por parte dos empresários do transporte, o que é um escândalo em se tratando de um serviço tão essencial para milhares de trabalhadores.

O TCE também exigiu da prefeitura de Porto Alegre a abertura de uma licitação para a prestação de serviço de transporte público, pois há mais de 20 anos que as empresas têm licença para administrar o transporte na cidade em base a contratos que hoje são ilegais. Nesse debate, o Bloco de Lutas pelo Transporte Público cumpriu um papel fundamental. As garagens ficavam paradas e a juventude ia para as ruas: dois atos foram realizados e dezenas de milhares de panfletos foram distribuídas nas ruas para disputar a opinião da população com a mídia burguesa que a todo tempo criminalizava a greve.

A “rebelião de base” que mudou a cara da categoria
Após 15 dias de greve radicalizada, a oposição de esquerda ganha força e a direção do sindicato, ligado à Força Sindical, perde espaço. Em todas as assembléias um novo fenômeno acontecia, novos dirigentes ganhavam força na direção da greve, cada vez mais radicalizada, enquanto que a tradicional direção do sindicato, ligada à patronal, era escanteada. Chegou o momento em que o presidente do Sindicato dos Rodoviários, também dirigente da Força Sindical, nem mais falava nas reuniões de conciliação do TRT e não cumpria mais do que a pauta burocrática nas assembléias.

 As lutas do ano passado trouxeram à tona a complicada situação dos rodoviários, que há muito tempo têm ajustes salariais abaixo da inflação e jornadas extenuantes de trabalho. A luta para mudar esse quadro evidenciou a disputa tocada pela base do sindicato contra sua direção. Luta essa que, a cada dia da greve, ganha mais força e é mais vitoriosa. Os piquetes eram a maior expressão da radicalidade da greve, pois intimidavam a patronal que atacava com o assédio moral, mostrando o envolvimento dos trabalhadores. Foi raro ver os que tentavam furar a greve, o apoio era generalizado e as discussões políticas nas garagens eram permanentes.

Por um outro modelo de transporte público
A divulgação da necessidade de abertura de uma licitação para o serviço de transporte público é a saída da burguesia para a crise instaurada na cidade. Porém, essa medida não visa atacar o lucro que os empresários têm quando cada trabalhador e estudante passa pela coleta do ônibus. A estatização do transporte público sob o controle dos trabalhadores é a única maneira de um serviço tão essencial para o dia-a-dia dos porto alegrenses não ser objeto de lucro de terceiros, tornando a tarifa mais barata e o transporte de maior qualidade para usuários e rodoviários.

Estado de greve
Na noite do dia 10, mais de mil rodoviários reunidos no Ginásio Tesourinha decidiram continuar em estado de greve, porém colocar a frota de ônibus em circulação para atender a população. Essa decisão será mantida até o dia 17, quando o Tribunal Regional do Trabalho pretende julgar o dissídio da categoria. Se o resultado não for o melhor para a categoria, a greve irá reiniciar. A proposta ofertada pelos empresários, de 7,5% foi amplamente repudiada aos gritos na assembléia. Com a retomada dos trabalhos, os rodoviários garantem que não serão descontados pelos dias parados e o fim do banco de horas foi prometido para julho deste ano.

Com os ônibus voltando a circular a vida da população de Porto Alegre pode aos poucos ir voltando ao normal. Porém, nunca mais será a mesma. Os rodoviários nos mostraram que, através da luta, podemos conquistar nossas reivindicações. Após as Jornadas de Junho do ano passado, os governos e os patrões sabem que a disposição de lutar está maior, e os rodoviários de Porto Alegre são mais um exemplo dessa luta!