Foto: Dalmo Rodriguez

 
A definição pejorativa da imprensa regional de que o 30 de agosto na Baixada Santista foi “mais um dia de caos” mostra, por um lado, o caráter já reconhecidamente reacionário e conservador desses órgãos, mas por outro demonstra com clareza uma outra realidade – essa a que de fato nos interessa: o Dia Nacional de Paralisações na Região foi uma grande vitória da classe trabalhadora, que mais uma vez mostrou ser capaz de abalar as estruturas do capitalismo com apenas algumas horas de paralisação.
 
Nem bem havia amanhecido a sexta-feira no litoral paulista e as primeiras manifestações já começaram a surgir nas fábricas, rodovias e avenidas das cidades de Santos, São Vicente e Cubatão. A divisa entre Santos e São Vicente, na avenida da orla da praia, foi bloqueada. O mesmo aconteceu na região do Saboó, na Avenida Martins Fontes, no trecho onde fica a divisa entre Santos e Cubatão. Esses dois bloqueios, que duraram cerca de cinco horas, foram suficientes para a construção de um cenário semelhante ao 11 de julho: trânsito intenso, portas dos comércios fechadas, trabalhadores que sequer chegaram ao trabalho, ônibus impedidos de subir a serra rumo à capital paulista… enfim, tudo parado!
 
Parte importante deste rico processo de mobilizações e da reorganização que vive hoje os movimentos sindical e estudantil do país, a CSP-Conlutas e a ANEL estiveram presentes no bloqueio da Avenida Martins Fontes e aproveitaram o ato para exigir ‘Fora, Alckmin’ e a resposta para uma pergunta até hoje não respondida pelo governador tucano: quem matou Ricardo? O prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) também não foi poupado e a juventude levou suas faixas para exigir o fim da obrigatoriedade do cartão nos ônibus e passe-livre já!
 
Ainda durante a manhã, parte dos manifestantes se dirigiram até a rodoviária municipal e impediram, por alguns minutos, a saída e entrada de ônibus municipais e intermunicipais. Para fechar as manifestações de rua, as centrais sindicais ainda realizaram ao meio-dia um ato na Praça Mauá, em frente a Prefeitura de Santos.
 
Indústrias vazias
Mais uma vez, a maior parte dos trabalhadores do pólo industrial de Cubatão sequer chegou às indústrias da região. Somente na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, unidade da Petrobrás, cerca de 7 mil trabalhadores cruzaram os braços – entre petroleiros diretos e terceirizados. Tanto na RPBC, quanto no Terminal Pilões, unidades da estatal de petróleo, houve greve durante todo o dia.
 
A forte disposição de luta dos petroleiros se explica, em parte pelo início da campanha reivindicatória, em parte pela tradição de luta da categoria que tem neste momento como principal tarefa derrotar o leilão de libra do governo Dilma, a maior privatização da história do país. O valor estimado do pré-sal localizado no campo de Libra é de R$ 3 trilhões, valor suficiente para garantir investimentos pesados em saúde, educação e transporte público de qualidade, com passe-livre já.
 
Nas demais empresas da região onde atuam os operários da construção civil e os metalúrgicos, sobretudo no pólo industrial de Cubatão, o cenário foi o mesmo: tudo parado. Este conglomerado de indústrias reúne praticamente 30 mil operários. Em Santos, as agências bancárias também amanheceram vazias, com cartazes colados nas vidraças explicando em letras garrafais o que todos pareciam já saber: 30 DE AGOSTO, TUDO PARADO!
 
A pauta unitária das centrais envolveu a melhoria da qualidade e diminuição do preço dos transportes coletivos; 10% do PIB para a educação pública: pagamento do piso nacional aos trabalhadores em educação, escola pública de qualidade para todos; 10% do orçamento para a saúde pública; fim dos leilões das reservas de petróleo; fim do fator previdenciário e aumento do valor das aposentadorias; redução da jornada de trabalho; contra o PL 4330; reforma agrária; e salário igual para trabalho igual.




Leia também: