Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação

 

21 de outubro de 2015: depois de 30 longos anos de espera, este dia finalmente chegou! Às 4h29 da tarde de hoje, em algum ponto do espaço aéreo de Hill Valley, California, Marty McFly surgirá como um raio, vindo direto de 1985 em um DeLorean modificado com rodas voadoras e um aparelho doméstico de fusão nuclear que alimenta um “capacitor de fluxo”, peça principal de uma máquina do tempo instalada no carro. Marty chegará junto com sua namorada Jennifer e seu amigo Emmett “Doc” Brown, inventor da máquina do tempo. Antes do final do dia, Marty terá enfrentado Griff, neto do famigerado Biff Tannen, em uma emocionante perseguição de skates voadores em frente à torre do relógio da cidade, e terá salvado seu filho Marty McFly Jr. de ser preso por envolvimento com uma gangue de criminosos.

Como sabemos, muita coisa ainda vai acontecer no dia de hoje. Marty cometerá um terrível erro ao comprar, em uma loja de antiguidades, um almanaque com todos os resultados esportivos de 1950 até 2000, que acabará nas mãos de Biff. Este, por sua vez, roubará a máquina do tempo para viajar de volta a 1955 e entregará o almanaque à sua própria versão jovem, mudando assim seu passado, ou criando um “paradoxo temporal”, como prefere dizer o Dr. Brown. A posse do almanaque transformará Biff em um milionário cruel e poderoso, que controlará, por meio do dinheiro e da força, uma Hill Valley “alternativa” em um 1985 “alternativo”.

Felizmente, sabemos também que essa história, ainda que repleta de reviravoltas, terá um final feliz, com Marty McFly salvando o Dr. Brown de ser assassinado pelo pistoleiro Bufford  Tannen, bisavô de Biff (sempre ele!), em um duelo no velho oeste americano em 1885. Tentando salvar seu amigo, Marty (que adotará o nome de “Clint Eastwood”) conhecerá William McFly, seu próprio bisavô, além de seu avô, que a esta altura é apenas um bebê de colo (“o primeiro McFly a nascer na América”).

Ao final de toda essa aventura, Marty retornará são e salvo para 1985. Infelizmente, logo depois do retorno de Marty, o DeLorean será destruído por um trem, acabando para sempre com a possibilidade de novas viagens no tempo. O Dr. Brown ficará em 1885, onde (ou será “quando”?) se casará com  Clara Clayton, uma professora primária apaixonada por ciência e com quem terá dois filhos, Jules e Verne. Não se sabe bem como, o Dr. Emmett Brown construirá uma nova máquina do tempo, desta vez na forma de trem (que também terá rodas voadoras), e passará rapidamente por 1985, para se despedir pela última vez de Marty e Jennifer, e apresentar ao amigo sua nova (antiga?) família. Mesmo que resumida em umas poucas palavras, não restam dúvidas de que esta é uma das maiores aventuras de todos os tempos!


O mostrador da máquina do tempo no 2º filme da trilogia

30 anos de De Volta para o Futuro
De Volta para o Futuro (partes I, II e III) é uma das trilogias de maior sucesso na história do cinema. Dirigido por Robert Zemeckis e produzido por Steven Spielberg, o primeiro filme estreou em 1985, arrecadando, já na primeira semana de exibição, mais de 380 milhões de dólares. As partes II e III estrearam em 1989 e 1990, respectivamente, sendo aclamadas pelo público e pela crítica tanto quanto o primeiro filme, feito extremamente raro em se tratando de trilogias. Juntos, os três filmes ganharam dezenas de prêmios, além de terem dado origem a uma série animada e a um musical.

De Volta para o Futuro é um ícone da cultura pop e nerd no mundo inteiro. Durante 30 anos, uma geração inteira se divertiu vendo e revendo dezenas de vezes as trapalhadas e reviravoltas protagonizadas por Marty e pelo Dr. Brown. Durante 30 anos, repetimos aqueles bordões inesquecíveis (“Onde estamos indo, não precisamos de estradas”, “Eu odeio esterco” ou “Ninguém me chama de covarde”); brincamos com a possibilidade de que até 2015 se inventassem skates e carros voadores, jaquetas auto-secadoras e tênis que se auto-amarram; ou ainda (o que era ao mesmo tempo engraçado e assustador) que a franquia Tubarão chegasse ao 19º filme…

Os filmes estão aí, à disposição de todos. São um patrimônio incalculável da cultura universal, o retrato da Era Dourada dos nerds. Há centenas de sites e vídeos “fan-made” (feitos pelos próprios fãs) que analisam as curiosidades, os segredos e as teorias da conspiração sobre a franquia. Pode-se passar horas e horas nessas páginas. De Volta para o Futuro é assim; não vale a pena analisá-lo de maneira muito séria ou crítica. A força dessas seis horas ininterruptas de aventuras (os três filmes são praticamente um só) está na leveza de seu roteiro, na simplicidade e transparência de seus personagens, no charme de sua inocência.


Michael J. Fox e Christopher Lloyd na comemoração dos 25 anos do 1ª filme da série

A última viagem ao passado
Infelizmente, o fato de Michael J. Fox (que interpretou Marty McFly) ter sido diagnosticado com mal de Parkinson em 1991 e da doença ter progredido desde então eliminou qualquer chance de que a franquia fosse continuada. Fazê-lo sem Fox seria algo simplesmente inimaginável. Por outro lado, o filme é tão perfeito, que um remake, por melhor que fosse, estaria inevitavelmente condenado ao fracasso. De Volta para o Futuro permanecerá em nossa memória tal como foi pensado, produzido e interpretado por aqueles que participaram do projeto original. As viagens de Marty McFly através do tempo deixarão para sempre em nossa boca um gostinho de “quero mais”, que não poderá jamais ser satisfeito, a não ser com mais uma maratona da trilogia.

Para comemorar os 30 anos do primeiro filme e a data de “chegada” de Marty McFly ao “futuro”, a Universal Studios preparou um box com os três filmes remasterizados em Blu-Ray, acrescido de um curta-metragem chamado Dr. Brown Saves the World (O Dr. Brown Salva o Mundo). O enredo gira em torno de uma viagem de Brown a 2015 para impedir a criação de tecnologias que provocarão uma catástrofe nuclear em 2045. O novo filme conta com a participação apenas de Christopher Lloyd (que interpreta o Dr. Emmett Brown), sem Michael J. Fox, já bastante debilitado pela doença.

O futuro não foi escrito
É verdade que o 2015 que nos foi prometido em De Volta para o Futuro é muito diferente daquele que acabou acontecendo de verdade. Ao invés de skates voadores, temos smartphones e paus-de-selfie; ao invés de tênis que se auto-amarram, crocs; ao invés de carros voadores movidos a fusão nuclear, poluição e engarrafamentos. De Volta para o Futuro faz parte ainda daquela categoria de filmes utópicos, que acreditavam em um futuro brilhante ao qual chegaríamos graças apenas ao desenvolvimento da técnica e da ciência. Uma ingenuidade pura e sincera, que quase não se vê mais em Hollywood. Mas, como dissemos mais acima, não se deve ser muito rigoroso. As aventuras de Marty McFly nunca pretenderam ser mais do que boa diversão. Acabaram marcando uma época.

Ainda assim, o filme não deixa de nos oferecer uma boa lição de otimismo e humanidade. Ao final da terceira parte, quando “Doc” passa por 1985 com sua “maria-fumaça voadora”, Jennifer mostra a ele um fax que ela havia trazido consigo do futuro, mas que havia se apagado, e pergunta o que isso significa. “Doc” diz:

Isso quer dizer que o futuro de vocês ainda não foi escrito! O de ninguém foi! O futuro é o que vocês fizerem dele! Então, construam um bom futuro, vocês dois!

Respondemos como Marty McFly:

Nós vamos, Doc!